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Parto humanizado, natural e vaginal: não é tudo a mesma coisa

(e por que precisamos falar sobre essas palavras)



Desde o início da minha formação em enfermagem, o conceito de humanização do cuidado sempre esteve presente. Aprendi cedo que humanizar não era apenas uma “boa prática”, mas uma diretriz ética. Ao longo dos anos, em cada nova etapa — da graduação à atuação como docente, dos estudos ao trabalho como doula — esse conceito foi ganhando profundidade, ressignificados e também desafios práticos.


Ainda assim, é um tema frequentemente banalizado. Como se falar em cuidado humanizado fosse algo óbvio, automático, garantido. Afinal, se o cuidado é feito por humanos, não seria naturalmente humanizado? Talvez você se pergunte isso.


A realidade é que o cuidado pode sim ser desumanizante, mesmo quando prestado por pessoas bem-intencionadas. Pode ignorar, silenciar, invadir. Pode deixar marcas físicas e emocionais duradouras. Isso vale para qualquer área da saúde, mas se intensifica no contexto do parto, onde vulnerabilidade e potência caminham lado a lado.


Humanizar é reconhecer a humanidade de quem cuida e de quem é cuidado


Segundo o Ministério da Saúde, por meio da Política Nacional de Humanização (PNH), humanização é a valorização dos sujeitos no processo de produção de saúde. Isso inclui o fortalecimento dos vínculos, a corresponsabilização das equipes e o reconhecimento dos saberes dos usuários. Em outras palavras, trata-se de um cuidado que considera os aspectos físicos, emocionais, sociais e culturais das pessoas envolvidas.


Esse olhar integral é essencial na assistência ao parto, onde a presença de protocolos rígidos ou condutas automatizadas pode transformar o que deveria ser um momento de acolhimento em uma experiência de violência ou desconexão.


Na prática clínica, a humanização se traduz em escuta ativa, decisões compartilhadas e respeito às singularidades. Não se trata de rejeitar a medicina ou a tecnologia, mas de garantir que elas estejam a serviço da pessoa e não o contrário.


Como destaca um estudo publicado na Brazilian Journal of Health Review (2022), a assistência humanizada ao parto contribui para a redução de intervenções desnecessárias, melhora os desfechos perinatais e fortalece o protagonismo da mulher no processo de nascimento. Isso acontece especialmente quando as equipes estão sensibilizadas e preparadas para lidar com o parto como um evento fisiológico, mas também social e emocional.

Parto humanizado não é um “tipo” de parto


Essa é uma das confusões mais comuns.

O parto humanizado pode ser vaginal, natural ou até cesárea. Ele não é definido pelo resultado, mas pela forma como a mulher é tratada ao longo do processo.


Um parto com anestesia pode ser profundamente respeitoso. Um parto sem nenhuma intervenção pode ser violento. A chave está em como as decisões são tomadas, como os limites são ouvidos, como o corpo é acompanhado.


De acordo com a cartilha Humanização do Parto e Nascimento, elaborada pelo Ministério da Saúde, o cuidado humanizado busca articular práticas baseadas em evidências com o acolhimento das necessidades individuais de cada mulher. Isso implica, por exemplo, oferecer liberdade de movimento, permitir a presença de acompanhante de escolha e favorecer o contato pele a pele logo após o nascimento.


Humanização é cuidado com vínculo, ética e sensibilidade. É garantir que aquela mulher continue sendo sujeito de sua experiência e não objeto da conduta médica.


Mas então, o que são parto vaginal, natural e “normal”?

  • Parto vaginal

É o termo técnico para o nascimento pela via vaginal. Pode incluir intervenções como anestesia, ocitocina, episiotomia ou fórceps. Ele descreve o caminho do bebê, mas não diz nada sobre como a mulher foi tratada.


  • Parto natural

No uso popular, costuma se referir ao parto vaginal sem intervenções farmacológicas. Um processo fisiológico, conduzido pelo próprio corpo. Mas isso não o torna automaticamente respeitoso. Um parto natural pode ser traumático se houver falta de apoio, escuta ou consentimento.


  • Parto “normal”

Muito comum no Brasil, o termo “parto normal” é amplamente usado como sinônimo de parto vaginal. Mas ele carrega um risco: ao chamar um tipo de parto de “normal”, o que estamos dizendo sobre os outros? Que são anormais?


Estudos recentes indicam que a linguagem utilizada para descrever o parto pode ter impacto direto na forma como as mulheres percebem sua experiência. A imposição de um modelo único como ideal contribui para a exclusão e culpabilização de quem não vivenciou aquele padrão.


Ainda que o uso seja cultural, essa linguagem reforça hierarquias e pressões. Muitas vezes faz com que mulheres que passaram por cesáreas ou partos com intervenções se sintam culpadas ou “menos mães”. Por isso, cada vez mais profissionais têm adotado termos neutros e precisos, como “parto vaginal” ou “parto por cesariana”.


Por que essas palavras importam?


Porque as palavras moldam vivências. Elas definem o que é possível nomear, reivindicar, compreender. Quando uma mulher chega ao parto sem entender essas diferenças, ela pode se sentir perdida ou sem voz. Quando ela sai do parto sem ter sido ouvida, isso pode reverberar por anos no corpo, na autoestima, na maternidade.


Entender o que é parto humanizado é entender que o nascimento não é só um evento clínico. É um marco físico, emocional, cultural e social.É um lugar de potência e, por isso mesmo, precisa ser protegido com consciência, informação e respeito.



Deseja um parto mais respeitoso, mas não sabe por onde começar?

Acompanhar você nesse processo faz parte do meu trabalho como doula.

Se quiser saber mais, estou aqui.


Referências


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BEATRIZ FACIO, PhD, doula

+46 73 635 80 29 | doulabeatrizfacio@gmail.com 

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